Na vila de então as pessoas eram reconhecidas, não tanto pelos seus nomes próprios ou apelidos mas mais por certas “etiquetas” e sempre ligadas quer às respectivas profissões quer associadas a determinada estória familiar e que prefiguravam contextos peculiares que, como tal, passariam de geração em geração.

Todavia, era ainda a miudagem daquela altura que nas suas brincadeiras de rua “baptizava” e até “crismava” os seus compinchas de forma que estes deixavam até de ter a identidade do registo oficial do respectivo B.I. e passavam a ser “matriculados” em nomes mais ou menos bizarros e que estes, a custo, teriam de assumir, qual ferrete gravado a quente, e que perdurariam até ao “jardim das tabuletas”.

O próprio carteiro guiava-se por esta lista onomatológica, quando confrontado pela falta dos número Dezoito(s) e Setenta(s) de polícia nas portas, Portelinhas e Castelas e que aqui e aLi lhe asseguravam que um tal de António da Silva Afonso não era outro senão o Tone do pescado, a título de mero exemplo.

Um qualquer estudioso teria até “pano para mangas” para desenvolver uma tese sobre este assunto e por certo que se haveria de perder na Torre do Tombo para achar a verdadeira origem de tais cognomes.

Tal “lista negra” começa na Bíblia no Adão e Eva e passeia-se na barca de Noé aparelhando bicharada e Bichezas vários.

Gatinhos com Pezinhos de lã, Carriças, Charrasquinha(s) e outros  Passarinhos; Gaivotas, Galgos, Pintos, Pica-paus, Cucos e Doninhas e até peixe(s) da Solha(s), Tainhas, Rabudinhos e Chu(i)charros. Pelos muros e prados verdejantes passeiam-se Salagatas, Bois da Páscoa, Coelhos, Galos, Crocodilos e até Jacarés!… Não podiam faltar as pocilgas para os  Rabos de Chico e Chiquinhas que dão Chouriça(s) e Tripas.

 Pelos recantos da casa e outros locais mais íntimos banqueteiam-se Ratos e Ratas do lodo, e simples Pulg(a)uinhas…

 À mesa não faltam ciclóstomos como a(o)s Lampreia(o)s.

 Há gente boa e outra de Mal(a)raça(s) que anda de Chinelas como os  Bocas, Picaus, Chapuzes, Povilas, Tréculas e Caveiras.

Nos transportes há os Caminetinhas e os Tax(ch)is.

Quanto a tendências sexuais há também  Maricas e Mariquinhas no Curral desta grande bicharada !

Já na modernidade, há raios e Faíscas.

Nos duas rodas há simples Motas e Traboquetas que fazem curvas e Co(u)rvões!

Mas se uma moléstia destes adereços nunca aparece só, que farão Sete moléstias e mais outras tantas todas juntas, distribuídas que foram um pouco por cada uma das várias famílias!…

Se mesmo em tempo de fome, à maioria dos seus filhos não havia de faltar no dia a Dia(s) o bacalhauzito com Batatas Frita(s) mesmo sem o(s) Azeite(iros) ou os ovitos galináceos do Pica-no-chão e dos Pitos com Arroz(es) para alimentar as Barriga(nas), já a alguns Joões Patrões mais Pequenino(s) e com a mania das grandezas não sobrarão Petitas de ouro de volfrâmios antanhos ainda por gastar.

Nesta descendência há Anões, netos e Franklins da Neta(s) mais ou menos ricos e bem vestidos e até Marias Lindas e outras Belezas de jardim como as Rosinhas. Mas há também pobreza envergonhada das RantonasRotos e nus que nem Calcinhas têm!

Não Mint(a)o se acrescentar que também há  Carecas e Cabeludos que utilizam fixadores de Lacas por Tuta e meia…

Uma autêntica Assembleia de  profissões várias como Barbeiros, Carcereiros, Carteiros que são Cocheiros, Chapeleiras, Farrapeiras,

Fastudos, Ferreiro(a)s, Folheteiros, Louceiros, Motoristas, Notários Padeiras. Retratistas, Sapateiros, Serralheiras, Soqueiros e Tamanqueiros.

Gente que vive da pobreza alheia como os Penhoristas que em troca entregam simples Patacas.

Gente com casas de veraneio de janelas e Varandas Abertas espreitando o mar pela Frente(s), ou tomando Café(s) por trás das Costas. Gente com estados de espírito mais Felizes que outros e há também malta que Chora(s) e Barrega(s) e enxagua lágrimas de luto que poderiam até encher Ribeiros, Regos e Regados e desaguar em Lagunas de sofrimento.

Há ainda quem passe férias em luxuosos Paquetes e Magníficas Marino(a)s, em simples Campos de veraneio ou escolhendo tórridas Areias das Praias. Outros, de apelidos Tonós do Norte e António(s) do Sul, a que se juntam minhotos Fangueiros e Beirões de nascença e que viajam por esse Portugal afora às Voltas com castelos de Guimarães, Bom Jesus de Braga(s), Santa Luzia de Viana(s), Nazaré(s), Miranda(s) ou visitando Felgueiras, Vila(s) Verde(s) e Monções; e ainda há gente Poveira(s), que se instala em simples “vilas de Matos”.

Há descendentes de imperadores Romano(a)s que perpetuam “o rio Tibre” nos Tibérios, Maximino(a)s, Mários dos triunviratos, Tito(s), Adriana(o)s e até nos “quintos filhos” dos Quintinos.

Não houve apenas um Rei, mas Raínha(s) e Reis “preparados, prontos e rápidos” como os Afonso(s), do primeiro ao sexto; “santos, verdadeiros e justos” como os Sancho(s) povoadores, ou até um “augusto e digno de veneração” – se bem que desaparecido! – Sebastião que promoveu a vila o burgo esposendense, e um outro “guardião e glorioso” D. Duarte(s) das Sesmarias que se prolongou no heinrich “rei poderoso” Henrique(s), e nos Luíses(zinhos) e outros Vassalos que ainda prestam Continência(s).

Proliferam títulos de nobreza da Noruega.Adolfos, Marques e Marqueses, Condes e Garcias ; ilustres famílias de Melos e banqueiros Amorins ; há pintores espanhóis nos Velascos, simples Mimosos Pinta-ratos e Mona(s) Lisa(s) dos Vasconcelos e Mendanhas que possuem fortunas em quadros e Terras, enquanto outros não têm Eira(s) nem beiras. Na política há uma ou outra Ministra(s).

Não faltam ainda as Pinóias, Locas e Pitocas, Ginocas e  Mugicas, Biáias, Bieitas e mais uns tantos Polieiros e T(o)rocad(t)os por “usarem colar(es)” e Pérolas.

A saga prossegue ainda nos Saganito(s) ou nos simples mas honestos Zés da Vila, incendiários dos Foguete(s) ou que não batem bem da cachola no(s) ditos cujos Tolo(s) e até um outro das “partes baixas”…

E que não se esqueçam guerrilheiras Maranhona(s) dos Brasis armadas de facas e Catanas. E que se lembrem ainda os Airinhos, Sai-Sai que se engasgam nos “Tá …tá(s)”…

Àqueles outros, a fé cristã manifesta-se-lhes nas Escrituras no profeta Joel, no “luminoso e matinal” Evangelista S. Lucas, nos arcanjos Miguéis e outros anjos menores, os Ange(r)cos, e nas rezas nos altares de Santos, Sampaios, Lourenços, Teresinhas e Santamarinhas da(o)s Igrejas e nos sinais das Cruzes , dando Graças ao Criador, em Rosários à Sua Virgem e Santa Mãe.

Mas também pelo ecosistema há quem faça Arrancas e Parrancas de ervas daninhas. Há ramagens e frutas nos Loureiros, Laranjeiras, Carvalho(a)s e muitas Vinhas. Há abrasucados nos Cearás, Ceareiros e outros ligados à pesca nos Leme(o)s, Vareiros e Silocas. Há descobridores nos Magalhães. Umas Grazinas que rimam com outros que vendem Pastilhas. Aqueles que se vêem já Rendidos da vida e atentam nas próprias ainda Sá(ã)s, em suicídios de Pistolas. Algumas excepções nas Inocência(s), nas Viúvas e nos “amantes” Amâncios.

Sobram ainda os dançarinos do “Chá Chá Chá” nos Chechos, Chechas, Chichos, Churras, Chupas, Neichas mais os Narelhos e Pirolaus.

Descendentes de Mós de moinhos. Alguns Salói(a)os. Patuna(s), Hilários e Amália(s) que são Cantadores e fadistas afinadinhos nos Fás das Violas.

Há quem tente a sorte aos Furo(a)s.“Pais Tiranos”. Há nomes oriundos do simples Barro(s) mas doutores! Há um Farol e famílias de Faroleiros.Carrilhos e Morgados e outros mais.

Figuras míticas que “resistem e contém o inimigo” como Heitor(es) da Ilíada que defendem a fortaleza de S. João Baptista dos Piratas. Labristas e Morrossóis; uns tantos Moucos e aqueles ali já Coxos e até um ou outro ainda Luneta e Cegueta! Há amantes de Baco que gostam do tintol como os Retintos e andam Dias seguidos meios Bêbados.

Não faltam Michele(s) afrancezados nos Miquelinos, ou de origem germânica nos Waldos que “governa(m)” nos Gualdinos e ainda os de origem tupi “abelha” nas Jandira(s), à mistura com descendentes gregos e “habitantes de Leucade”, os Laocádias, os “púrpuros e brilhantes” Porfírios e os “naturais do Libano” os Libânios; os latinos e “vencedores” Vicente(s) , os “felizes” Faustino(s) , os “naturais de Laurêncio, os Lourenços , os “fortes, robustos e corajosos” Valentins, os “ruivos” Rufinos ou de ascendência espanhola nos Muchachos de apelidos Gomez, Bermudez e Consuelas.

Ah!… e os Freitas!

Na matemática sobram os números “ímpares” e prémios Nóbeis nos Pedro Nunes; os “fiéis e leais” Fidós ; as “caçarolas de barro minhotas” nos Picheles. Os “guardiões das matas” nos Monteiros. Os descendentes de “árvores coníferas”, os Teixeiras. Ainda os que radicam nos “lavores em relevo de ouro ou prata” como os Cardosos; os “que trajam bem” como os Finfas e os mais ou menos “guedelhudos”, Guedes, ou os “habitantes da vila”, os Vilarinhos. Até na ciência não haveria de faltar os utensílios próprios para visualização microscópica nos Lamela. Há quem se confunda com a moeda inglesa nos Nibras e nos palácios reais nos Plácidos

Mas para que esta plêiade de gerações que fizeram Obra não fique incógnita, há que afastar as Barreiras do seu desconhecimento e projectá-las em grandes néons nos Novo(s) Pilares e Torres das futuras cidades.

E ainda sobram Tarrios, Losas, Zãos, Rites, Richalhos, Caravelhas, Piriris, Isolinos, Calicas, Ilás e Talhós, Catoras, Vasquinhos (…), estrangeiros Russos, Espanhóis e Americanas (…) e outros tantos trezentos e seis de outras terras e nações que arribaram cá e que memória já não alcança mais!

 

MAX

P.S. Qualquer conotação abonativa ou não com os visados é mera especulação inventiva e estilística do autor.

Uma questão de etiqueta(s)…

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